Milton Santos afirma que o planejamento dos países subdesenvolvidos foi direcionado a atender o interesse do Capital das grandes nações, fazendo com que as nações subdesenvolvidas conservassem sua pobreza.
Segundo J. Timbergen, “a função do planejamento é garantir, dentro da lei e da ordem, um mínimo de segurança e de estabilidade, é proteger a segurança física das pessoas e da propriedade, é promover e estimular o investimento privado.” W. A Lewis completa o pensamento afirmando que “ele constitui uma providência macroeconômica supostamente capaz de criar um clima de confiança entre os investidores”.
Os itens “segurança, confiança, como também, estímulo ao investimento privado” constantes como termos essenciais para um bom planejamento deveriam ser patrocinados com o “auxílio do Tesouro Publico”.
O estado deveria adotar uma postura de investimento para se alcançar o desenvolvimento tão almejado, mas Milton Santos crítica esse pensamento afirmando que as justificativas utilizadas pelos gestores para concessão de empréstimos a iniciativa privada, significam tão somente a “transferência da poupança dos mais pobres para o bolso dos mais ricos”, já que os recursos dos empréstimos são oriundos dos impostos cobrados da população.
O Neocolonialismo começou a ser implantado nas economias menos desenvolvidas. O domínio armado deu lugar ao domínio ideológico, econômico, subjugando silenciosamente os países mais pobres.
Para alcançar seus objetivos as nações mais pobres foram levadas a crê que deveriam buscar o desenvolvimento, seguindo as orientações dos organismos internacionais, com investimentos em infra-estruturar etc., “foi a época dos grandes projetos com ampla exibição de capital”, dinheiro esse obtido através de empréstimos das nações ricas, e cada vez mais empréstimos foram contraídos resultando num “endividamento permanente e cumulativo”.
Segundo Milton Santos “o planejamento tem tido um papel a desempenhar neste processo. Ele é um desses conceitos-chave criados pelo sistema capitalista como meio de impor por toda parte o capital internacionalizado”.
Observamos nitidamente essa influencia nos mercados comuns, união aduaneira com políticas comuns de regulamentação de produtos e com liberação de circulação de todos os três fatores de produção: terra, capital e trabalho, neles as “barreiras alfandegárias têm sido abolidas ou afrouxadas”. O livre comércio tem sido promovido entre os países com a justificativa de prosperidade para todos, mas não é bem isso que se observa, “o que foi realmente promovido foi o estabelecimento de empresas transnacionais, quando as estatísticas mostram a expansão do comércio inter-regional elas de fato dizem respeito ao comércio entre firmas transnacionais para as quais vão os lucros dessas transações”.
Os verdadeiros interesses foram colocados de forma oculta, “vem para enganar e disfarçar as reais causas e tendências do planejamento do falso progresso geral e econômico, onde são muitos das vezes, os gestores, isto é, os representantes do Estado que atuam como os principais agentes maquiadores e propagadores de pobrezas,”
“A ciência regional e o planejamento eventualmente se fundiram”. “Umas das funções atribuídas ao planejamento regional é a de racionalizar a estrutura interna de dominação e dependência, a fim de ajustá-las aos interesses do sistema.”
O processo de urbanização ao mesmo tempo representa um resultado e condição do processo de difusão do capital. “A população que lota estas cidades em rápido crescimento constitui mão-de-obra barata e, por sua mera presença, garante o estabelecimento de um estoque de capital fixo”.
O Planejamento Hoje: Do Uso da Força ao Estratagema
“Distinguimos três fases sucessivas. A primeira foi a penetração pela força. Como no caso das outras duas, a penetração começou com a ideologia. Mas em cada uma dessas três fases podemos encontrar elementos de ideologia e de força combinados. O que realmente ocorre nas três fases é um processo de penetração planejado.”
“A segunda fase é marcada pelo desenvolvimento de monopólios na sua forma transnacional, sendo tanto uma conseqüência com uma causa do aumento da concentração de capital. O sistema capitalista é bem sucedido em estabelecer uma maquinaria eficiente para coleta de excedentes, não mais baseada na produção apenas, como na primeira fase, mas também no consumo. Quando os pobres perceberam que tinham sido enganados em suas esperanças e que eram realmente os malditos da terra, o sistema teve que encontrar algo de novo a fim de se manter e continuar prosperando.”
“A terceira fase, ao contrario das outras duas, espalha-se através de todo o Terceiro Mundo. De ora em diante, dever-se-á dar aos pobres a impressão, e não somente a esperança, de que estão emergindo da pobreza. A pobreza não será eliminada, apenas mascarada. Esta nova fase no processo de modernização capitalista conduzirá a uma nova forma de pobreza, a pobreza planejada.”